Os anjos são rijos como as pedras E leves como as plumas. Na leira rasa das aves, Tu que redras Terra, névoas e espumas, -Deus, de teu nome!- sabes que um anjo é pouco e imenso: Por isso cabes No cabes no anjo e ergues o incenso.
Desfaleço a pensar-te Ó ser de anjos e Deus Que baixa em mim: Sobe-me na alma, que ando a procurar-te E dizendo-te Deus Acho-te assim.
Lívidos, sem respiração Ficávamos do toque Da primeira asa vinda; Mas eles rondam apenas a oração Que murmura os evoque E vão-se e tornam ainda.
Deles para cima, ainda mais graus de glória Relutam ao sentido Que deles vem á memória Como uma bolha de ar na água de olvido: No mais, são tão pesados, Os anjos leves ao justo... Tão alados, Mas desgostosos do nosso susto!
É isso! Disse-mo agora O verbo súbito surpreso: Ser anjo é espanto da demora Nossa e do peso pávido Que nos estende. Terrível é quem toca terra Para a levar, e não a rende.
Que o anjo de si é ávido De transe e rapidez, E é ele que chora Nosso chumbo hora a hora É ele que não entende A nossa estupidez.
Tempos atrás, que me parecem séculos, a princesa deusa grega Iaga me surgiu. Minha vida transformou-se em alegria muito prazer e muito amor...
Do sentido da razão me vi privado, amor com tudo que tinha e como não podia, entrega total de coração, corpo e alma, vivendo cada momento como se fosse único...
A doce deusa Iaga me levou aos píncaros da alegria A linda princesa grega, me fez seu príncipe encantado Montando nosso cavalo branco do amor e da esperança cavalgamos por prados verdejantes nunca dante visitados
Tudo era glória e sofreguidão... ansiedade por meros minutos distantes, partilha, alegria por reencontros, carinhos, beijos, abraços, amor... Jamais sonhara ser agraciado por tal felicidade...
Mas tudo passa... tudo se vai... bem ou mal sempre se vão... Chegam de mansinho, vão ficando, tomam conta do lugar, assenhoram-se de tudo que nos pertence e ofuscam-nos a razão que nunca havámos perdido...
De sólido racional, passional me tornei, e sem aviso, feito um anjo, Iaga se desvaneceu e se foi... Chorei como não podia, sofri como não queria, desesperei como não desejava... pois perdera quem amara...
Hoje, já não tão só, nem tão feliz da forma de antes, não tão racional como preciso, e tão passional como não devo, vivo e saboreio intensamente um novo amor, mas ainda sem compreender como, nem porque, uma linda deusa se transforma em anjo, um maravilhoso anjo negro...
Foi naquela noite Disforme, sem sintonia Que de olhos fechados Te vi chegar Desceste pelos Céus infinitos Para o meu cordão de prata Vires cortar Mas eu não queria.. Por favor, te pedi, Ainda não... Sem uma palavra, olhas-te para mi Estendes-te a mão gélida e negra Da morte chegada, E eu percebi Que a ti me tinha de entregar Com as tuas asas Me envolves-te E me acariciaste Com o doce olhar Perdi-me por ti E por toda a eternidade Te vou contemplar
Esta noite , passaste de mansinho Pelo meu quarto, Refugiei-me entre os lençóis de cetim, O meu coração bateu Como um animal cego de medo O que vieste fazer Anjo Negro, Recuso-me a olhar para ti, “ Abre os olhos “ disseste “ É o medo que te impede de estar sozinha” Olhei em volta, Vi espectros, presenças confusas e ruidosas “O medo é inimigo da solidão” comentaste “Como tu também estou só, ninguém me quer por perto” Juntos vamos descobrir na solidão a força, A audácia que forja flechas de luz,.
Estás aqui a fazer um trabalho espectacular. Na realidade, o que escreves tem uma pureza tal que se torna avassaladora. São palavras límpidas e creistalinas, revestidas de uma inocência escondida... não sei bem o que diga.
Mergulhada dentro de mi Procuro serenar minha mente inquieta Muralhas espessas São os pensamentos nefastos que me assombram Tu anjo devasso, Que numa ilusória distância te aproximas do meu Ser Aos poucos ,vais-me arrebatando a Luz Sinto um arrepio, e aguardo o nascer do Sol, Mas nesta solidão, Procuro refugio na parte mais sombria de ti E assim vou vivendo, Nesta dualidade, Que é de noite te amar E de dia te odiar.
Eu sou o semblante triste O sorriso curto e ainda tímido Por traz dos olhos de esfinge Se esconde um vulto, ou espírito Dentro da minha alma Existe uma necrópole De vampiros suicidas Mortos de overdose Fragmentos de poesia, Anjos loucos num calabouço Acusados de heresia E torturados pelo fogo São vagas todas as lembranças Da insânia ingênua e lua fria Fui traído pela falsa santa, Na neve branca da melancolia Assim ao amor dos mortais Prefiro a solidão dos Anjos E a minha condição fugaz De simples ser humano Sou uma tela, sou um quadro surreal Pintado à óleo e sangue Sou guerreiro guardião do Santo Graal Na clausura de Notre Dame
Rodrigo Q.
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UM SONHO
Vestiu-se de anjo. Balançou as asas contra o vento. Sobrevoou a cidade feita do ouro e da prata. Sentou-se numa nuvem azulada de fumaças para ver se o tempo passava na desgraça dos dias móveis, infinitos tão tranqüilos e benditos. E jogou-se no vácuo Voou de lado para mirar o Oeste terra que oferece prazer. E tornou-se homem Deixou de ser anjo Galgou pelos campos Conquistou seus sonhos Sentiu-se como Deus Mas não passava de uma judeu que com um grito rouco ergueu-se um pouco estendeu a mão e disse que era Adão O povo inteiro fez procissão Já não era um santo Mas um tal de João que atravessou com Eros o umbral da imortalidade para amar todas as mulheres Mulheres de todas as cores, pedaços de céus no universo. E chegou a madrugada feita de sonhos, misturada com luz solar. Chegou sem arruaças Lhe acordou sem tombos Lhe despiu o anjo. Lhe fez uma fita a desenrolar-se E lhe disse o mais difícil do que fácil. Quando o dia escapuliu
Nem sei que te diga, MJ. Estás aqui a fazer um trabalho espectacular. Na realidade, o que escreves tem uma pureza tal que se torna avassaladora. São palavras límpidas e creistalinas, revestidas de uma inocência escondida... não sei bem o que diga. Somente que continues... beijo, CT