Um dos meus vizinhos tem uma única filha que mora algures por esta Europa, por isso de quando em vez lá vai o senhor visitá-la. A cada volta podemos contar com as descrições entusiásticas do que viu, do que fez, e do que bom que era se cá também fosse assim. Um dia destes apanhou-me a meio da escada e, para além do habitual, desta vez trazia também uma novidade: "uma coisa que nunca viu!... uma ideia tão simples que devia haver em todo o lado! é magnífico o que por lá se inventa... ora espere aí que eu vou buscar..." Eu esperei enquanto ele foi... quando voltou passou-me para a mão o magnífico objecto. Felizmente não tive que fingir o espanto, mas também não tive coragem de lhe dizer que se pode arranjar um picador de cebola em qualquer loja dos trezentos. (E não sei porque é que me lembrei disto hoje.)
Entre os meus 6 e 10 anos tive o meu pai emigrado para as Alemanhas e, de repente, já com os tais 10 anos vi-me a provar a coisa mais espectacular que tinha provado até aí - de certezinha que tinha sido inventada naquele momento e eu era o primeiro a prová-la: a coca-cola...
Isso não é pior! Acho que cada coisa que provamos na infância tem essa maravilhosa característica de ter sido inventada no momento especificamente para nós... somos uns sortudos!
O meu vizinho fez-me sentir um misto de ternura e vergonha... o entusiasmo dele com a novidade era contagiante, e eu senti-me traidora por já conhecer a coisa...
