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Post Info TOPIC: Quando eu morrer


Grande Administrador

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Quando eu morrer




Olhava para o meu avô procurando amigos no obituário do jornal.
Página a página, cigarro fumegante na boca torcida pela trombose, ia contando colegas de escola, companheiros de brincadeira e de trabalho, imbecis que lhe fizeram a vida negra, mulheres que desejou e, de quando em quando, soltando um baixinho “Olha, olha, quem morreu… tão novo…” e eu olhava para a fotografia de um velho, olhava para ele de seguida e pensava que não, que não era assim tão novo.
Nessa altura, tinha mais para viver que o vivido – o saldo era ainda francamente positivo e a coluna do “haver” era muito mais preenchida que a do “deve”…

Entretanto, começaram a morrer pessoas que eu próprio conhecia.
A primeira morte de que me lembro foi a uma menina minha vizinha (já não recordo o seu nome, recordo um balaústre onde uma ocasião fiquei com a cabeça presa – truques da memória) que foi a enterrar teria eu aí uns 6 ou 7 anos de idade.
Não me recordo dos pormenores, exceptuando este: era fria, amarga e cheirava a qualquer coisa que poderia ter sido viva mas agora estava morta. Constatei tudo isto com um beijo no seu cadáver que me fizeram dar.

A segunda morte que recordo foi a do meu primo no Ultramar – o Rangel de quem só lembro a fotografia – e que não esqueci nunca mais, apesar de não me lembrar dele, de crer nem sequer tê-lo conhecido. Foi, apesar disso, o meu primeiro contacto pessoal com a Guerra.

Não me recordo do funeral do meu avô, melhor, de nenhum dos meus avós.
Foram pessoas muito queridas para mim.
O último a morrer, andava eu na tropa e a única coisa que recordo é o meu Primeiro, o Sargento Gomes, a dizer “Teixeira: deixaste alguém doente em casa?”
“Não, meu Primeiro” , respondi. Ele andou em volta de mim – tinha mandado sentar-me, coisa rara no mundo da tropa. “Bom… passa-se que…” , hesitou e passou-me um toque de ordem para a mão. “Olha pá: o teu avô morreu. Vai a casa que tens 3 dias”.
Do que me lembro a seguir é de voltar a entrar no quartel.

Morreu mais gente, tenho visto muita morte: velhos que morrem, novos que morrem, amigos de infância a morrer cada vez mais cedo… e, engraçado, de cada vez que a pessoa é importante para mim, não me lembro de nada.
Mais: praticamente esqueço a pessoa.

Estranha esta memória selectiva.
Estranha esta negação da morte: quase que penso que, em vez de morrer, a pessoa nunca existiu.

“Quando eu morrer” é uma frase que digo com naturalidade, sem problemas de maior a não ser a leve tristeza, a leve frustração de deixar de existir.
A não-existência.
O não-ser.
O “para quê tudo isto?” que se forma involuntariamente nos lábios.
A visão de Mário Sá Carneiro acerca de “morrer enquanto somos belos”.

Mas também sei que, não tarda, hei-de estar atento ao obituário do jornal murmurando “Olha quem morreu…” e desejando sempre mais um dia.

E, na inevitabilidade da coisa, só desejo lucidez na velhice e leveza na morte.

Só há um tipo de morte que me assusta: a morte solitária.
Gostava de ter companhia na hora da partida.
Gostava de morrer de olhos abertos a ver os que amo.
Gostava de morrer de mão dada com os meus.

Espero conseguir.


 


CT



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Já sei como funciona!!!

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Era muito menina a 1º vez que me deparei com a morte, tinham-me contado  que as pessoas quando morriam eram levados por anjos para o céu. E eu acreditei.


Quando vi aquela pessoa metida dentro de um caixote, não entendi, depois todos choravam e beijavam o morto, Porque? se  ia para o céu ? mas onde estavam os anjos? e porque ele estava no caixote? Depois taparam a caixa, e meteram num buraco fundo com tanta terra, os anjos não o podiam vir buscar, baralhada e nervosa comecei a rir, a rir muito , o  Sr que me criou ficou furioso  tirou-me do cemitério a bateu-me muito, e disse que eu era muito má, pois estava ali um morto e a familia triste e eu estava a gozar. fiquei muito infeliz pois não entendi nada do que se estava a passar.Mas é assim  os crescidos nem sempre entendem as crianças.


 


Não sei se gostaria de ter alguem junto de mim na morte, deve ser triste partirmos sózinhos,mas também deve doer vermos nas pessoas que amamos  a triteza nos olhos , e de nada podermos fazer para acalmar a dor dos corações.:::



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