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Post Info TOPIC: Desliteratura
lia


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Desliteratura


Era uma vez uma velhinha muito arranjadinha que tinha trinta galinhas muito boazinhas e bem educadas, todas enfiadas num galinheiro muito limpinho e arrumado. As próprias galinhas, por serem muito boazinhas e bem educadas, tomavam ao seu cuidado a limpeza do galinheiro. Todos os dias as galinhas, além de fazerem a limpeza do galinheiro, punham ovinhos e cantavam a seguir. Cada galinha punha um ovo, por isso ao fim do dia a velhinha tinha sempre trinta ovinhos fresquinhos e uma sinfonia. Como os ovos eram pelo menos tão bons e bem educados como a as galinhas que os tinham posto, a velhinha ficava muito contente e ia vendê-los à feira da vila. São ovinhos caseiros bons e bem educados, dizia, e vendia-os muito caros. Ora um dia, ao contrário dos outros dias mas não muito, a velhinha reparou que um dos ovos era diferente dos outros. Era um ovo esquisito que teimava em não ficar no ninho, e por mais que a galinha que o tinha posto o arrumasse com o bico, o tolo do ovo saía sempre do lugar. Irritou de tal maneira a galinha que nesse dia a pobre coitada desafinou no canto final e amuou de vergonha. Jurou a pés juntos às outras galinhas que nunca mais punha um ovo que fosse não fosse dar-se o caso de sair outro igual a este. Depois da jura encetou uma introspecção profunda a perguntar-se que mal tinha feito para tamanho castigo, mas não viu mal algum porque era muito míope e o mal era muito pequenino. Além disso era galinha. Foi assim que entrou em agonia e vomitou, coisa inédita em galinhas tanto bem como mal educadas. O ovo riu-se. A velhinha, que apreciou a cena, pegou no ovo mas não lhe bateu, bateu-o. Depois juntou-lhe açucar farinha e canela e tendeu três bolinhos redondos. Os três bolinhos do ovo mau. 


(Lia C, versão Margarida Rebelo Pinto com buço)



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O Mal anda aí escondido em capoeiras ensombradas, disfarçado de alvos ovais de tenra casca que mais não são que o inglório desafio à pesada mão da velhinha-justiça-divina.



(à falta da mão pesada, apresento o pé pesado, não necessariamente de velhinha.)


Quem come os bolinhos? Esta é a pergunta que urge em tão pesada matéria.


Eu não, estou em rígida dieta, calorias seriam o desfecho fatal desta enorme vontade de caber no espelho, sejam calorias de ovinhos rebeldes engasgadores de galinhas, sejam ovinhos bem comportados cuja finalidade na vida é servirem de repasto a meninas bem comportadas ou simplesmente serem pariodos por um coelho da páscoa fugido da Alice atrás do Espelho.


Fossem ovos de ouro e a cantiga seria diferente que o peso destes bem comportados ovos, muito alinhadinhos no meu cofrezinho em casa, dizia eu, o peso destes seria sempre inversamente proporcional à sua quantidade e omeletas não seriam eles - certeza das certezinhas...


E, no fim, quem nunca foi galinha, que atire o primeiro ovo...


(Senhor Anónimo Teixeira, versão Miguel Sousa Tavares sem saber o Norte, que fará o Equador...)



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lia


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Não gosto que me desafiem, por isso atirei-lhe o ovo. Zás, foi mesmo em cheio naquela parte da testa que fica ali onde começa o nariz. Na sobrancelha da esquerda, depilada e oxigenada como manda qualquer sapatilha. Não entendo porque é que agora me acusam: era de ouro mas estava cosido com linha de seda brilhante, que eu sou prendada e cuidadosa. Se o matou foi porque quis, não tive nada a ver com isso. 


(esqueci-me disto: Lia C, versão Odete Santos sem lápis no nariz)



-- Edited by lia at 15:16, 2005-05-30

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Pois, pois... como se um ovo de ouro tivesse capacidade de pensar... se tivesse cabelo, dourado... enfim (está quase a saír anedota de loiras, mas vou evitar...).


Tu é CULPADA, manipuladora de ovos e outras histórias de velhinhas e capoeiras e, se há revolta das galinhas, a culpa é tua, só tua.


Melhor era deixar tudo como estava, cada ovo no seu lugar, em couvettes protectoras dos maus olhados e da indisciplina, essa nódoa de qualquer galinheiro que se preze.


NÃO HÁ GALO QUE DEITE MÃO A ISTO?



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Havia sim, mas a avozinha fez canja de galinho. E não tinha mãos, vê bem! O galo, não a avó que por acaso tem umas maõzinhas de ouro como o ovo.


Vou agora lavar os pratos.


 



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RE: Desliteratura - Porque me sinto triste


Sopra um vento cor de rosa no meu jardim. Agami, o velho elefante cinzento que me ensina a aprender, prepara-se para dançar. Enfeitou-se também por fora, com todo o cuidado, porque a dança é a festa da harmonia. Sobre o dorso colocou a melhor manta, vermelha, bordada de todas as cores que não há. E pôs nas orelhas três guizos, dois na direita e um na esquerda, para chamar a atenção dos deuses.

Enquanto o vento, suavemente, embala o meu baloiço, começa a dança de Agami. Levanta a para direita, devagarinho, num movimento perfeito recriado pela tromba. Distende o corpo para a frente, sempre muito lentamente, elevando a pata esquerda de trás. E volta-se, e rodopia, e eleva-se, estende-se, estica-se, sempre devagar e sempre perfeito. E continua e eu continuo sem poder deixar de ver. E começa então a música, primeiro só uma brisa e depois mais forte e cada vez mais cheia. E o vento senta-se a meu lado e baloiça comigo, enquanto Agami continua a dançar a música que nasce de cada gesto que faz.

Hoje o vento é amarelo.
Agami, o velho elefante cinzento que me ensinava a aprender, morreu.
E eu ainda não sei dançar.

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RE: Desliteratura


Talvez que o vento o traga com os pássaros na volta da música, talvez que os pássaros o tragam com a música na volta do vento, talvez que a música o traga com o vento na volta dos pássaros...


Talvez os elefantes, com a sua memória proverbial se recusem, simplesmente, a morrer e exista para aí um local secreto onde dançam danças desconhecidas de ritmos coloridos, cheiros inebriantes, músicas surdo-mudas somente para os ouvidos mais preparados.


Talvez Agami não seja exactamente um elefante mas antes uma qualquer luzinha de alma que não apaga assim tão facilmente...


Fica quietinha por uns instantes, silenciosa, fecha os olhos e, no restolhar das folhas lá fora, com sorte, hás-de conseguir ouvir algo como passos pesados que se aproximam e se, muito devagarinho, abrires os olhos e os conservares semicerrados, quase de certeza que conseguirás ver Agami a fazer músicas de notas desconhecidas com os seus passos de dança.


Quisses.



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Talvez quando os ventos mudarem de cor e três pares de abraços me segredarem ao ouvido "adoro-te mamã"... talvez...

Agora é hora de vestir aquele sorriso que pesa toneladas. Não sei sequer porque é que estou assim...

Bêjos também para ti, e obrigada.

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Podem não acreditar, mas garanto que isto é verdade.

O meu sonho sempre foi ser uma compositora de sucesso. Já não digo que quisesse ser um Mozart de saias ou um Beethoven de unhas envernizadas, mas enfim… uma pessoa tem o seu orgulho e eu gostava que um dia as minhas obras fossem apresentadas, talvez no Olímpia de Paris (haverá outro?). De preferência não a título póstumo, que era para poder distribuir autógrafos com a minha pena de avestruz cheia de tinta lilás.

Passei muitas noites em claro a cultivar olheiras e a encher pautas com notas frescas de sol e água e naturezas outras. Gosto de flautas e violinos, mas isso não interessa agora.

Uma noite, depois de muitas outras noites em que o fim parecia não chegar, dei por concluída a minha obra. Modéstia à parte, uma perfeição, algo acima de genial.
Preparava-me para guardar as partituras na gaveta quando a vi. Uma formiga, imaginam? A coisinha minúscula agarrada a uma semi-colcheia de sol, a arrastá-la, arrastá-la por ali fora sem consideração nenhuma.

Larga-me já isso!, gritei eu histérica ou mais que histérica e com razão. A descarada ficou quieta por um momento, largou a semi-colcheia, olhou para mim de alto a baixo e vai de reclamar:

- Largar isto? E porquê? Encontrei-a, é minha, e não faz aqui falta nenhuma. Além disso os tempos estão maus e uma semi-colcheia de sol tão rechonchudinha como esta vai dar um jeitão lá m casa. Aquecimento para três semanas, mais coisa ou menos…

Fiquei furiosa, é evidente. Aquecimento? A minha obra aquecimento? O meu toque de génio acima de génio num formigueiro? Ou largas já isso ou funciona o insecticida animais rastejantes e nunca mais tens frio, disse eu na minha melhor voz de ameaça precária.

- Engano teu, amiga. Hoje em dia todas as formigas cultas e informadas como nós tomam regularmente as vacinas recomendadas. Não há nada que nos detenha, e os insecticidas são servidos à sobremesa em dias de festa.
Pensei depressa. E uma paulada, han?, por isso perguntei-lhe e disse: E o meu dedo mindinho em cima de ti? Sou grande e tenho força e como estamos sozinhas não há quem me denuncie à SPA.

Não me pareceu perturbada. Sentou-se à proa de uma semi-breve de ré, cruzou as patinhas, suspirou e começou a explicar o óbvio:

- Não ia resultar, amiga. Não podes saber estas coisas, claro, mas desde a penúltima geração que somos constituídas à base de PVC e silicone. O nosso CACCT, desculpa, o nosso comité para o avanço da ciência e cultura tecnológica conseguiu apoderar-se do resultado de algumas investigações na área das mutações e manipulação genética, e aqui estamos nós, maleáveis, resistentes e inquebráveis. A primeira geração saiu um bocado verde, é certo, mas temos vindo a aperfeiçoar a técnica e a natureza encarrega-se do resto. Se reparares bem eu já sou quase toda negra, tenho só esta pintinha verde nas costas e esta manchinha na perna direita – e mostrou-me – Até me dá uma certa gracinha, não achas?

Eu não achei gracinha nenhuma e disse-lho. Mas, pelos vistos, as formigas também têm o seu orgulho e aquela era vaidosa. Olhou para mim roxa de raiva e, sem dizer mais nada, desatou a andar por cima da minha música. Empurrão daqui, puxão dacoli, a toda a pressa e em três tempos reduziu-me a música a um dó.

(Lia C, versão Lá. Font N.)

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http://aspalavraspordentro.blogspot.com/2005/06/por-detrs-do-cran.html

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Já por lá postei umas quantas coisas, mas sinto-me mais segura aqui... vou continuar com os meus bichos de contos.

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Era uma vez um camaleão que não gostava de estar sempre a mudar de cor. Um dia sentou-se em cima de uma flor amarela e começou a queixar-se:

- Maldita sorte ser camaleão! Nunca posso estar descansado! Isto de mudar de cor é uma agitação constante, não dá sossego a ninguém.

Então lembrou-se de ir procurar a Fada Madrinha que é a fada que transforma os sapos em príncipes e por isso pode fazer tudo o mais que quiser. Tuc tuc tuc fez a porta da fada madrinha quando o camaleão lhe bateu. Mas a Fada Madrinha nesse momento estava a ver uma novela e não quis ir abrir a porta. Tuc tuc tuc fez outra vez a porta e a fada madrinha lá se levantou.

- Quem é? –perguntou a fada madrinha, porque embora possa fazer muita coisa nem sempre consegue adivinhar quem é que está à porta.

- Sou o camaleão. – disse o camaleão – Estou muito cansado de andar sempre a mudar de cor. Vinha ver se podias fazer alguma coisa por mim. Ando stressado, percebes?

A Fada Madrinha não percebeu, claro, porque no tempo das fadas madrinhas a evolução natural ainda não tinha aperfeiçoado o stress. Mas deixou entrar o camaleão.

- Então o que é que eu posso fazer por ti? – perguntou a fada madrinha. Vendo bem esta fada madrinha não é lá grande coisa porque não consegue adivinhar nada.

- Não sei – disse o camaleão –talvez possas fazer com que eu fique sempre da mesma cor.

- E de que cor é que queres ficar? – perguntou a fada madrinha. Vêem como eu tenho razão?

- Oh!, isso é difícil – disse o camaleão – não sei bem a cor que quero… talvez vermelho, não sei… o vermelho é uma cor bonita e vai bem com os meus olhos. – Este camaleão também não é lá muito esperto.

- Vermelho, vermelho – disse a fada madrinha – vermelho – e começou a procurar no livro das magias esquecidas – vermelho… v… antes do x… depois do u… vaca… velho… verde… verruga… não… verde… verdugo… verruga… vertigem… olha camaleão, vais ter que escolher outra cor porque já não há vermelho. Não há vermelho no meu livro. Podes ser verde, queres?

- Não, disse o camaleão – agora já escolhi, está escolhido! Dá muito trabalho escolher uma cor e eu quero ser vermelho.

- Não pode ser, camaleão – disse a fada madrinha – Não há vermelho!

- Mas eu quero ser vermelho! – disse outra vez o camaleão.

- Não! – disse a fada madrinha.

- Sim! – disse o camaleão.

- Não pode ser – disse a fada madrinha.

- Mas eu quero – disse o camaleão.

- Não pode ser – disse a fada madrinha.

- Mas eu quero – disse o camaleão.

- Não pode ser – disse a fada madrinha.

- Mas eu quero – disse o camaleão.

E continuaram a discutir assim durante três dias e três noites, até que a fada madrinha compreendeu finalmente o que é o stress e transformou o camaleão em morango.

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Porque afinal estas coisas são mesmo assim, não é?, perguntou-me o Augusto ao telefone e eu disse que sim.
Estava com sono mas ele continuou Sabes como é a Matilde, não é? E eu tornei a dizer que sim. Conheço a Matilde há tempo suficiente para saber que sempre foi gorda e sempre será. E feia. São coisas que não mudam.
Imagina tu, continuou o Augusto, que além de tudo agora deu para afirmar que vê Ovnis. OVNIS!, já viste bem? Não, disse eu. Eu não. Nunca vi ovnis, é coisa que posso garantir.
Nem que não fosse por mais nada acho que ela devia fazer análise só por isto, não é? Calei-me. Cada qual sabe de si, mas o Augusto nem reparou. O Augusto nunca repara nestas coisas.
Diz ela, disse ele, que dia sim dia não há um ovni que aterra na varanda. Sempre à mesma hora, está ela a preparar-se para começar a fazer o almoço. Diz que aquilo a atrapalha. Dia sim dia não como ovos ao almoço. Fritos, estrelados, mexidos… ovos. Só ovos e batata frita de pacote, sem salada nem nada. Há três semanas! Os miúdos desistiram e passaram a comer na escola. Mais uma despesa. Chateia-me, isto. Diz ela que os étês são simpáticos. Conversam muito e é por isso que ela se atrasa e não faz o almoço. Conversa com étês na varanda, a minha mulher! E não me diz de que é que conversam, não sabe dizer! A minha mulher, já viste?
Eu disse que não, nunca vi a mulher dele a conversar com étês na varanda, mas o Augusto não reparou. O que eu gosto no Augusto é isto, não é preciso dizermos nada. E se dissermos ele não repara.
A Matilde enlouqueceu, foi o que foi!, gritou o Augusto do outro lado do fio. Ainda não temos telemóvel. E começou a fungar. Aproveitei para bocejar. Gosto de bocejar, é uma coisa que sei fazer muito bem, e o Augusto nem sequer reparou.
O que é que eu posso fazer mais? Perguntou ele a soluçar.
Escusei-me a fazer-lhe notar que ainda não tinha feito nada. Dia sim dia não podia trazer salsichas ou comer fora ao almoço, mas pronto, o homem já estava mal e eu não gosto de apontar o dedo a ninguém.
Amanhã é outra vez dia de ovnis na varanda, informou-me o Augusto. Podes vir até cá? Eu disse Hum deixa lá ver amanhã amanhã.
Eh pá, disse o Augusto, faz isso por mim e vem cá amanhã falar com a Matilde… pode ser que ela se abra contigo e se esqueça dos étês, a Matilde sempre te respeitou e confia muito em ti. Isto é mentira, mas não resisto a bajulações por isso disse que sim.
E amanhã fui lá.
Cheguei a casa do Augusto e da Matilde precisamente às onze horastrinta e um minutos e quarenta e seis segundos. A Matilde veio abrir a porta, a desatar o avental. Estava corada e gostou de me ver. Parece-me. Pelo menos sorriu-se e deu-me um abraço a dizer ainda bem que vieste eles devem estar quase a chegar. Quem?, perguntei eu contente por ser ela a introduzir o assunto. Oh, os meus amigos do hiperespaço, disse ela com um ar naturalíssimo. Vais gostar de os conhecer, garantiu satisfeita, a puxar-me por um braço em direcção à porta sacada da varanda. Que tem reposteiros horríveis, diga-se de passagem.
Tomas alguma coisa? Achei melhor não e sentei-me no sofá.
A Matilde foi à cozinha e voltou sem avental a ajeitar o cabelo. Depois tentou alisar a saia com as mãos de unhas roídas, mas não resultou muito bem.
Agora não fales e não te mexas, eles devem estar quase a chegar. Vai ser uma boa surpresa, disse a Matilde já a dirigir-se à varanda.
Fiquei alerta. Consigo estar alerta mais ou menos três minutos mas não foi preciso tanto. Vi muito bem a bota a cair na varanda. Branca, de cano alto com atacadores. Assustei-me, mas a Matilde fez uma vénia bem disposta e começou a falar e a rir-se. Baixinho.
Sofro de intuição, por isso percebi logo que ela falava de mim. Detesto que falem de mim a botas brancas de cano alto com atacadores. Levantei-me e saí dali sem barulho. É certo que agora estou longe de casa, cada vez mais longe, mas um dia voltarei. Não é mau de todo viver numa bota.

PS – O Augusto obrigou a Matilde a fazer terapia. Injustamente, já se vê. E nunca mais comeu ovos.


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