A minha avó contava que quando era miúda vivia lá na aldeia uma velhota, muito velha mesmo, que não tinha nada além dos trapos com que se cobria e uma galinha. Todos os dias de manhãzinha a velhota soltava a galinha e deixava-a andar por lá, junto de outras galinhas, a debicar o chão da aldeia. Ao entardecer, na hora de recolher os animais, a pobre mulher corria esbaforida atrás do bicho a gitar "entra, pitinha, entra!..." e, se sentia alguém perto dela, desabafava numa mágoa cansada: "oh! muito feliz é quem não tem nada!"
Penso muitas vezes nesta mulher a quem uma simples galinha incomodava a felicidade... e ultimamente, porque tenho ainda muitas coisas para mudar, gostaria de poder ter apenas uma galinha.
A velhota é fascinante!... Quando penso nela lembro-me da enorme capacidade que todos temos para ser infelizes pelas mais ínfimas razões... e essa é uma coisa que me espanta sempre.
Se a velhota fizesse a canja era capaz de ficar infeliz por não ter atrás de quem correr, digo eu...